Chapéu e Bambu
Ei, quero o chapéu desse cara. É um chapéu muito bonito, muito vistoso.
Não, menino, esse cara é meu e o chapéu vem junto com o pacote todo.
Toma uma rasteira, moço bobo, vê se tu não tá pro meu jogo.
Deixa esse moleque aí com esse chapéu de palha pálida e desengonçada.
E vê o chapéu, e sente que alguma coisa mudou. Será um chapéu?
Ele não sabe o que é, mas finalmente coloca o objeto na cabeça e sua vida muda,
Como em uma música, ele dança e se mexe como o chapéu faria, se fosse um desenho animado. Até a hora em que ele toma conta de minha cabeça, ou quase isso, porque chega ela e com seu bambu, me ataca.
Ela pega o bambu e dança como com um homem, ou alguma coisa roliça, em forma redonda, brinca como fazem os guerreiros, a natureza que automaticamente alcança sua íntima certeza. O instinto. Ela precisa brincar com o instinto, a natureza, a selva, a floresta, os bichos, o besouro, e o chinês talvez. Chapéu de malandro, canos e canos, planos de roubar a mocidade da menina, que foi pra China. Talvez um pouco de Cuba, mas não é preciso que seja mais que alguns segundos.
Somos felizes por pouco tempo, talvez. Somos felizes, apesar de tudo.
E fica um vazio entre toda essa dança e o guarda-chuva.
Ele é preto e está por ali sem querer nada. Fora de contexto. Ele me traz ao contexto.
De repente, perco minha ação, vejo que ela também perdeu. A única coisa que me resta fazer é girar o guarda-chuva. De cabeça para baixo, girar o guarda-chuva.
O guarda-chuva de cabeça para baixo.
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