terça-feira, 28 de agosto de 2012

Turnos Diurnos



Corro nu pela manhã.
Ela corre comigo, vasta e limpa
me devasta o pensamento

Ouço pássaros sonando.
Quiça falando entre eles, cada um
na sua espécie, e nós não.

Pelo tato que me entende,
pelos olhos que me despem,
sangro lágrimas de sal.

Sobre a secura da terra seca
ergo minhas mãos e peço aos céus
por chuva.

Molha a minha cara.
varre minha poeira para baixo
dos tapetes da inexistência.

domingo, 12 de agosto de 2012

Desprogramado



E nem pra turista, uma cidade visitada, nem um tiro certo,
Tudo programado com mínimos detalhes, só pra chatear.
Eu que tirei quanto tirei, não faz sentido, pra mim, sentar e me embriagar
Com vocês, sem vocês, com por ques e porquês demais.
Saudoso era me sentimento.
E saindo da esfera das vozes criando outras carnes e nações inteiras
Semeando a postura normalmente anedoteira, do povo em geral,
Admito, somos muito. Sempre. E isso carrega uma vida própria em cada um
De nós com ambíguos espectros de plankton playmobil e phantom, para
A alegria da molecada. Espero não ter escrito nada errado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Recomeçar



Tenho em mim certa ignorância. Carrego uma despretensão de viver, ao mesmo tempo em que, rígido, sou combatente de perfeição, no que me atrevo a fazer e levo nome. Como um bêbado de fome, vou desmoronando dia após dia, prato após prato, todas as surpresas tão esperadas que a vida me apresenta. Como por exemplo, aquele imaginário de amor que tenho, quando penso estar apaixonado por alguém e que, possivelmente ela também esteja apaixonada por mim. Não. Sirvo-me do mais barato vinho do Mundial e derramo pelas bordas do copo de plástico aquela sangria que me esbofeta a cara dizendo para acordar, trabalhar, amanhã tem coisas para fazer, problemas para resolver. Dia sim, dia não, vejo um milhão de pessoas correndo como loucos (e no fundo, coitados, são e sabem) através das vidraças que nunca se estilhaçam com as trombadas impulsivas dos ímpetos humanos. Arruaça de gente que me atravessa os olhos e nem sei se existem. Penso sempre naquela menina novinha, aquela tão calma, e procuro um motivo, um significado praquilo. Sempre que me pego vivo, dou uma olhada ao redor e penso: será que isso está acontecendo comigo? Me arrisco. Caio no céu. Gostaria de olhar para as pequenas crianças e saber exatamente como é brincar daquela forma, como fazia antes. Muito se perde da lembrança e em meio a tantas mudanças, já não sou mais quem era antes. Quem eu era quando nasci, já morreu. Quem escreve estas letras certamente também já morreu. Eu, no entanto, viverei para sempre, estarei sempre por aí, faço parte do conjunto vida, o que está para se transformar. Meu caminho é para um lugar de não pensar, e é preciso pensar muito para chegar lá. Construir tudo o que deve haver para destruir. E então trabalhar, agir, concluir, contemplar. Recomeçar.