quinta-feira, 12 de abril de 2007

a faca da maçã

Acordava. Preocupava-se.
Não! Antes ele se remexia todo para ter certeza.
Estava acordado no mundo da razão.
Sabia que era dia, mas estava escuro.
Olhou para as janelas e achou estranho. Cortinas fechadas.
Abriu. Estava mesmo escuro o dia.
Chovia.

Era um tempo em que ele não dormia mais, tamanha agitação,
tamanha a dimensão da doença que o consumia.
Precisava comer, pois o ácido também queimava seu estômago.
Uma maçã. Era o que restava.
Pegou uma faca. Cortava pedaços e os dirigia à boca.
Seu propósito era não fazer nada. Leu.
Terminou o livro que lia, e ainda releu trechos de outros que ainda o serviam.

- Música! Música! Alguma coisa que eu não sei o que é na esquina.
Não sei o que me espera.

Pensava muito e, em consequência disso, não conseguiu escutar.
Escrevia. Escrevia muito. Escrevia sem parar.
Estava completamente tomado por uma força inabalável.
Um princípio histérico de movimentar-se para atacar.
A música colidiu com seu corpo. Entrou.
Cortou a mão. A faca era cega.
A faca da maça.
Se preocupava antes de tudo, com nada além de dormir.
Seu propósito era não fazer nada.

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