Estou tenso. Como se eu precisasse que todos os meus músculos se contraíssem para poder segurar, hold together, todos os meus órgãos, todos os meus tecidos, ossos e pele. É a voracidade, talvez. Todas as coisas do mundo que se juntam e, em segredo, combinam: - ei, agora é a vez daquele ali (apontam para mim). vamos atacar!
E tááááá!!!!!! Vêm num tornado violento e me batem, me sacodem, me enfiam a porrada, até que eu preste atenção nisso tudo e sinta que oi! você é fraco! Sempre fui péssimo em onomatopéia, não sei qual é o som de quê e muito menos colocar isso em forma escrita. Esse "tá" foi um bom exemplo, pois não consigo sentir isso de verdade. Quando escrevemos tiramos a verdade das coisas. O que é vida, não é palavra. O que se torna palavra, de uma forma morre. Perde-se. A poesia das coisas vai pro lixo, assim sem peninha, sem lirismo, sem poesia. Dura e fria. Tenho sentido que escrever é somente uma questão de forma, o conteúdo fica fora. O conteúdo está nos olhos, no chão, na mão que toca o chão, no violão, no som que através do ar se faz ouvir, enfim, no que não se pode escrever, não se pode dizer, no indizível. Então caio eu no mesmo engano, de matar o que tenho escrito, o que me causou um ano sem escrever. Me distancio assim das palavras, pois elas ao invés de aumentarem meu homem sensísvel, aprisionam e tornam o eterno perecível. Ah, não quero escrever rimas! Neste exato momento meu coração bate acelerado e eu me sinto aprisionado dentro dele. Não, não é o coração do amor romântico, o coração valentino, o coração lírico e a metáfora-coração, não. É o meu músculo cardíaco que se espreme dentro de ossos atrofiados, dentro de um corpo magro, dentro de uma cidade magra, de um país formatado, de um mundo civilizado e uma escala de hierarquia absurda que é imposta e, bem ou mal, há de ser. Esse músculo é tão importante que me mantém escrevendo por enquanto. E qual, meu deus, me diga, qual a importância disso que estou a escrever? A maioria das pessoas não vai nem ler! Tá bom, não posso dizer que meu coração lírico não esteja a mil. Estou eufórico. Sensação de explosão inútil. Quem é você, Rafael??? Do que se trata isso tudo??? Cala a boca, finca seus pés no mundo, faz teu silêncio agradável e diga não! Aprenda! E tudo continua, tudo muda, mas aqui dentro nada parece aliviar. Cheguei da rua, tive uma reunião, estava com fome, estava cansado, comi, tomei um banho, sentei. O que é o amor? Porcaria de pergunta. O que é...o que é....aquilo mesmo que eu estava dizendo...sobre os ossos...como é mesmo? Aquela coisa que parece apertar o peito...não, infarto não...paixão...paixão? Não, não pode ser...não pode, não posso. É proibido. Por que tudo é proibido para quem quer viver? E se eu quisesse ao contrário? E como falar? Escrever é tão... sei lá, é uma forma de me limitar ao mundo das palavras e é um mundo do qual não faço parte, eu visito esporadicamente, vejo como me porto e assim, sem aviso, vou embora, saio, venho, vou, volto, toco de leve...faço carinho, arranho, levo outro tombo. Preciso ajustar a minha respiração, talvez isso funcione. Talvez inspirar e expirar. (Pausa)
Estou, estou, estou. Sou, não sou, não sou.
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