domingo, 5 de julho de 2009

A Calma em Tempos Escassos

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É azedo o gosto da solidão aterradora
Da paixão que não vive em tempos iguais
E quanto mais se ama, mais perto do fundo da lama
Está, e, portanto, poderia alguém dizer que
Não vale a pena?
Talvez. Não vale a pena se apaixonar
Tão profundamente e cair na armadilha
De alguém que não faz nada por maldade
Mas, infelizmente, joga no ombro alheio
O pesado manto de sofrimento escuro.
Há de se ter responsabilidade com os poderes.
O que farei eu, por exemplo, com todo esse universo
de amor, que chega a transbordar em mim,
de todas as formas, com suor, lágrimas, sono, dor.
Profunda dor, de esmagar o peito aos pouquinhos,
Sabendo que não vou ficar com quem amo,
Que não vou beijar, abraçar, apertar, fazer carinho,
Afinal, o corpo é quem ama. Nada mais.
O teatro pede calma, o teatro é eterno.
Eu sou frágil diante do acaso da vida.
Por que me pedir calma, quando tudo o que não temos é tempo?
Porque há tempo. E sofremos por faltar tempo.
Falta tempo para o futebol, falta tempo para escolher,
Falta tempo para a dança afro, falta tempo para amar.
O tempo não falta, fazemos. Fazemos tempo como fazemos
Arroz ou feijão, ou os dois em um só instante.
Aqui embaixo, onde estou, sinto frio.
O frio da terra, o frio da sua mão,
O frio do seu beijo apressado – que ironia!
O frio de ver, aos poucos, o desmonte do quebra - cabeças.
O frio dos teus cabelos de mel, intocáveis como a colméia.
Sinto frio, e daqui posso ver a claridade verdadeira.
Vou subir. Tempo, tempo, tempo, tempo.
Seja preciso. Que seja o tempo de sofrimentos vivos!
Abaixo a alegria morta!
Escolhemos, escolhemos. Não me venha com papo idiota.
Estamos nas mãos do poder. Tenho dito.

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