segunda-feira, 3 de setembro de 2007

I

Sou dependente. Frágil e impotente diante do abismo da vida. Me seguro, me apego nos mais diversos recursos que possa me apoiar, ou tomar posse e agarrar com toda a força para agüentar a força corrente da situação humana. Cala a boca, ortografo! Dinheiro resolveria praticamente todos os problemas da minha vida, atualmente.

II

Eu adoro ovo cozido. Com fome, sinto vontade de comer muitas coisas. Posso comer, posso não comer, depende de se onde eu estiver no momento tem comida. Parece estranho e esquisito, não é? Não é. É costume alguma coisa incomodar justamente onde não poderia, naquele exato momento. Chamem um médico. Não. Xamã.

III

Eu fico tranqüilo antes de entrar no palco, principalmente tocando com a banda. Sinto falta. Nem sinto, mas se lembro, sorrio. Passo por lugares diferentes agora. Outros nomes, outra estética. Arte. Agora veio um pensamento que me diz: “quero comer arte, quero comer arte, quero comer arte...” Não um big mac, mas um cheddar. Foda-se.

IV

Você anda pela rua e não tem rosto. Você grunhe baixinho quando alguém fala “oi”. Balbucia qualquer palavra não-dita e se livra de mais uma obrigação. Finge que não vê a pessoa que entra no prédio enquanto, dentro do elevador, se esconde nervoso torcendo pela porta que fecha. Tomara que não entre ninguém, você pensa. Tomara que não entre ninguém. Terceiro andar.

V

Nós vivemos assim, calados. Entramos no ônibus, no avião, não falamos com ninguém. Olhamos em nossa volta, percebemos a atração por algumas pessoas. O interesse. E se há a troca espontânea de olhares, nós sentimos a necessidade de olhar para outro lugar. Nós disfarçamos, fingimos falar ao celular. Nós, seres humanos.
(Esquecemos de amar.).