sábado, 28 de novembro de 2009

Considero Estender

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Tecer um avião é de se admirar.

Enrolar um cubo é estender um assunto.

Fritar as páginas do livro que lê é,

Em qualquer instância, um insulto,


Sem dúvida. Sem dúvida tudo morre.

Imagina só aquela toda-grande-verdade.

Antes sofrer de amor, de dor, viver e existir,

Do que saber exatamente as respostas no lápis.


Considero a pergunta. Considero muito.

A resposta é um impulso com os pés na água

Quando alguém é puxado para o mar fundo

E une suas forças em uma, em busca de ar.


Não vamos misturar as coisas. Falar sobre pessoas.

É tudo o que há? Humanistas, por favor, né?

Vamos pensar em tudo feito de átomos em essência.

Não sei porque, mas essa palavra “essência”... Não gosto.


É falsa. Desculpa se decepcionei com minha feiúra.

Eu evito tentar evitar tocar nisso, mas prefiro continuar

A comer o que sinto vontade e a essa altura

Só resta esperar a gravidade e o tempo que me ama.


Amor é um tema batido.

Batido e remexido.

Amor não deveria ser tema de nada.

Amor não deveria findar um poema.


Alô, aqui é o seu marido.

Vestido e prestativo.

Falou tanto em mania que tem me agitado.

Danou o pão que comia, de ovo sem gema.



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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pescaria

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Deixa ir

Corre atrás

Elogia

Diz que quer


Usa tudo

Olha fundo

Pra comer

Uma mulher


Liga lá

Manda e-mail

Dá importância

Se quiser


Não arrisca,

Entretanto,

Todo mel

Basta a fé


Pra deixar

É mais fácil

Se um qué

E dois num qué


Vai dar linha

Se afoga

Um pouquinho

Pensa que morre


Deixa ela

Amarrada

Na base firme

De algum poste



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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dias ao contrário – said the old man

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E os livros, discos,

Os poemas esquecidos...

Os rabiscos, tentativas de

Desenho no vidro...


Onde foram todos?

Onde mora a arte em mim?


Se pego um violão

Ou instrumento qualquer,

Ao toque de um botão,

Casa sim, casa não, menor em ré.


Juventude na escrita

Não difere da vida, ao pensar que

Cada golfada de ar que inspiro,

Expiro o suspiro de células, alívio


Quantas vidas você tem?

Quantas peles já trocou?

E as células, são de nascença?

Seus olhos são de neném?


Onde está sua idade?

Você tem quantos anos?

Minha idade cai à medida que

O mundo vai - caminhando.


Você tem os olhos do seu pai!

As pausas da sua avó!

Pra quem vive muito só

Eu em mim é gente demais!


Essa boca é do titio...

O maxilar é do vovô...

Assim, me repartindo, rio

E, afinal, quem eu sou?


Será mesmo esta vida,

Este mundo, esta aventura,

Algo a se classificar?


Quantas vezes, meu deus,

Sem ser religioso – ateu -

Posso seu nome chamar?


Números, mágicos silêncios

Que arranjaram para falar

Com anjos inteiros, em inglês,

Espanhol, grego ou alemão


“Please, give me that pencil”

- Said the general

But generals don’t say please

Que dirá thank you!


Pra onde vão todos os ladrões de ônibus,

com toda sorte de bugigangas

Quando saltam dos busões?


Montam uma barraca “fast money”

Ou fogem de Robin Hoods que

vagueiam desnorteados, dessulizados,

Deslesteados e por quão desoesteados?


E se vagueiam em tal situação,

Não custa perguntar: Tudo bem?

Alguns dirão que não. Que importa?

Alguns dirão que não querem porta.


Eu não venho aqui para contar nada,

Se assim quisesse, não fugiria contente

Das ciências matemáticas.


Venho aqui para fazer qualquer coisa

Que não seja escrever, e por isso

escrevo e talvez assim venha a morrer.


Métrica, verso, rima, prosa...

Que valor vital tem tudo isso

Quando a menina que o tem goza

E lhe escarra um belo sorriso?


Ah! Suspiros no corredor?

Colham tudo! De beterrabas a

Aspiradores de pó! Me deixem!

Deixem-me aqui completamente só.


Desembaraçando os nós do teu cabelo

Fazendo massagem nos teus pés

Lábios no teu pescoço e o cheiro

Que me causa tamanho revés.


Onde você sumiu?

No mato da hibernação climática?

Não ouço mais o velho telefone

Que tantas vezes já te ouviu...


Onde mora a arte em mim?

Já me perguntaram hoje.

Respondi que almocei, sim.


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domingo, 22 de novembro de 2009

matamoleza capaduridócil

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é como mato no meio da chaleira,
quando a grama é mágica, não carece
muita água e sendo assim, a hidroponia
se refere somente a um nome, nada mais.

filtragem apurada com carvão.
mais serve assombração do que punhos
de lavagem. Na varanda, persiste o cheiro
da lavanda que vem da casa da Amanda.

vizinho são. pra quê? oi, bom dia.
boa tarde, boa noite. tom de orientação.
não basta olhar para o céu, é preciso
conviver. conver. convir. contactar.

antes que eu arranque o C da palavra-trava
venha alguém e me trave a língua, num desses
carrosséis doces de quem come nuvem feita de
açúcar ventilado e moído no coração.

não me refiro ao órgão aqui, mas ao valentino.
aquele vermelho verdade verde visto variedade.
ao passo que andar é somente sucessividade
entre mundos aqui, mundos ali...

e quando o corpo diz não, a cabeça já está
em outros patamares, pois gosto de animais terrestres,
ao contrário de quem crueliza os bichinhos.
e segue rastejando até - tentei evitar - onde tenha sol.

silêncio de casa onde se mora bem,
dormiu comigo e sonhou com outros cem
se o que for meu é de carne, prefiro pão
com chocolate, pois que o prazer não finda tarde.

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sábado, 21 de novembro de 2009

...entre...

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Entre os fios encapados,
vejo o dia saltar alto e no embalo
cego de te ver, continuo com essa imagem.

Fosse o cheiro tirar margem,
Vampiresco no pescoço eu sou
aquele bicho que morde e arrepia.

e aos santos, subo um degrau mobile
de corda vermelha e preta, escusa
e sanguinolenta em zigzag

sem contar com o álcool que derrete
fácil e se confunde com gelo e pasta
de não sei que lugares são esses (pessoas)

ajudam, ajudam.
Ele estava descalço. Ouviu o som
do próprio ronco. Era calmo e preocupado.

Previamente ocupado, numa ocupação
forçada, sem mandato nem escape aos
prantos ou simplesmente deitada no chão etílico.

Suspiro, enfim, tinha que ter esse enfim
surpreso como um sorriso de "quando será"?
O próximo bonde sai em breve, amigo.

ele esperava. lia pela décima primeira vez
o anúncio da estação. Olhava o relógio.
Hora incontável. Se perguntar, ainda se lembra.

Tudo pode dar certo.
É preciso um pequeno esforço, ou gesto,
maneira, discurso, ataque, choque, toque.

um pequeno amor para esta menina, por favor.
eu quero um médio, dizia o poeta.
a jornalista encarava, escrevia, encarava, escrevia.

Um livro, ou biografia.
Biologia de um espécime.
A narrativa da devida tentativa de vida.


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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Eu

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Eu é pronome

Eu é instância da linguagem

Eu é quem diz ser eu

Eu é ficção

Eu é a narrativa do eu

Eu é quem clama

Eu é instância do discurso

Eu não é um.

Eu não é unidade

Eu não é natureza

Eu é invenção

Eu é conveniência

Eu não se identifica

Eu não tem identidade

Eu não se identifica

Eu é todos

Eu é qualquer

Eu não é


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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

águia

Ela que vem e anda e sabe a verdade
Tem todo um jeito próprio de amar
Se aproximar da ferida e curar com delicadeza
Às vezes falha, mas não interessa
Obstáculos...
Cair na rotina...
Os tentáculos que envolvem seu ser
A prendem na razão de um robô
E logo ela sente que quer mais da vida
Se solta tão facilmente
Esquece que é gente
Uma águia que despenca do céu
Só pelo prazer de sentir que vai morrer
E de repente se lembrar que ainda há vida
E viver...

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domingo, 8 de novembro de 2009

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Boa noite! Hoje acordei e fui na piscina dar um mergulho, tomar uma boa ducha, enfim, me refrescar. Há vários dias aqui no Rio de Janeiro o tempo é quente. Tem feito muito sol e geralmente a temperatura chega aos 40 graus. A piscina não estava muito boa, pois como toda piscina de clube (ou quase toda), eram muitas pessoas dentro de um lugar relativamente pequeno. Água quente, pessoas pulando, outras ao mergulharem me chutavam, outras jogavam água nos meus olhos que insistiam em não ver por causa da miopia. Saí correndo às quatro horas pra ver o jogão do Flamengo contra o Atlético Mineiro. O primeiro gol vi ainda na rua, voltando pra casa. Golaço olímpico do Pet! Corri mais um pouco até em casa e liguei a tv e assisti ao resto do jogo, com direito a almoço no intervalo. Meeeeengoooo! Flamengo venceu o jogo decisivo por 3 a 1! Depois fiquei por aqui, usei o computador, ouvi música, Somos Suicidas, e tal. Nós aqui ameaçamos uma ida ao shopping, só pra passear mesmo. Não deu, hoje fecha mais cedo. Tomei uma ducha fria muito boa e vim pra cá. Agora escrevo este texto que você lê. E depois? Alguém prevê?

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Realismo Pessimista

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Em que mais podemos acreditar?

Num céu enorme que descerá

E se tornará o grande catalisador?

Não é pessimismo, é realismo, disse.


É possível acreditar que o mundo...

Mundo?

E as pessoas...

Pessoas?


Tente entender, meu camarada:

Sinta este banco, essa cadeira,

Essa cadeira em que você está sentado agora.

Acha que é grátis?


È um tempo onde o presente é rápido,

O passado não vigora, e o futuro não chega.

Eternidade de diálogos, quase sempre em casa.

Família, coisa de tia, de dinheiro, de comida...


E eu que pensava que isso era sagrado.

Depois fui perdendo a noção do sagrado.

Muito relativo, e às vezes me perco

Tentando explicar isso.


Melhor deixar o sangue correr

Na mesma altura por todo o corpo,

Dizem os médicos.

Assim tudo flui, circulação.


Circular é um coração pronto

A estourar e, talvez por isso,

Veio se despedir.

Veio se despedir, mas não conseguiu e ficou.



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