terça-feira, 15 de maio de 2007

Eu vi um cadáver estendido. Camisa branca bordada, um boné sobre o rosto, calça jeans azul e tênis. Seu corpo duro, a pele pálida, e havia caindo próximo à sarjeta, a poça enorme de sangue.Era quase negro, viscoso e vermelho de um inferno próximo de quarenta graus celsius. Ele andava de moto. A moto havia sido levantada, e piscava seu alerta. A polícia mantinha as pessoas afastadas, os curiosos, os vampiros, os fotógrafos de jornal, os amadores.

A morte é trágica de qualquer maneira. Morrer de velhice não deve ser assim tão vantajoso, em alguns momentos. Sofre-se muito durante a velhice, dores, perda dos movimentos, frouxidão no corpo, imagina...espero não ficar velho tão cedo. Há os que dizem que é bom estar mais velho, maduro. Quero ser um desses também, pois não vou me encontrar remoendo as dores além do físico, e talvez levando a um misticismo bonito e sincero de quem se sente bem com pequenos gestos.

E a vida é isso. Prazer. Enquanto se vive, é preciso ter prazer. Seja o prazer do sexo, do droga, da música, do vazio de idéias, da futilidade, o prazer da morte. E o sol queima mesmo, não tem dó. O corpo é vazio, e os bichos comem, gira a roda. Os bichos somos nós, os tarados sem rumo, traçados na vida de solas gastas. Os muros dizem que está chegando a hora de ir para casa. Eu escuto, sigo o conselho. Ela é companheira, não adianta. Melhor ser o amigo. Ela nos segue sempre. Espreita.

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