terça-feira, 19 de abril de 2011

sem revisar mesmo

Estou tenso. Como se eu precisasse que todos os meus músculos se contraíssem para poder segurar, hold together, todos os meus órgãos, todos os meus tecidos, ossos e pele. É a voracidade, talvez. Todas as coisas do mundo que se juntam e, em segredo, combinam: - ei, agora é a vez daquele ali (apontam para mim). vamos atacar!
E tááááá!!!!!! Vêm num tornado violento e me batem, me sacodem, me enfiam a porrada, até que eu preste atenção nisso tudo e sinta que oi! você é fraco! Sempre fui péssimo em onomatopéia, não sei qual é o som de quê e muito menos colocar isso em forma escrita. Esse "tá" foi um bom exemplo, pois não consigo sentir isso de verdade. Quando escrevemos tiramos a verdade das coisas. O que é vida, não é palavra. O que se torna palavra, de uma forma morre. Perde-se. A poesia das coisas vai pro lixo, assim sem peninha, sem lirismo, sem poesia. Dura e fria. Tenho sentido que escrever é somente uma questão de forma, o conteúdo fica fora. O conteúdo está nos olhos, no chão, na mão que toca o chão, no violão, no som que através do ar se faz ouvir, enfim, no que não se pode escrever, não se pode dizer, no indizível. Então caio eu no mesmo engano, de matar o que tenho escrito, o que me causou um ano sem escrever. Me distancio assim das palavras, pois elas ao invés de aumentarem meu homem sensísvel, aprisionam e tornam o eterno perecível. Ah, não quero escrever rimas! Neste exato momento meu coração bate acelerado e eu me sinto aprisionado dentro dele. Não, não é o coração do amor romântico, o coração valentino, o coração lírico e a metáfora-coração, não. É o meu músculo cardíaco que se espreme dentro de ossos atrofiados, dentro de um corpo magro, dentro de uma cidade magra, de um país formatado, de um mundo civilizado e uma escala de hierarquia absurda que é imposta e, bem ou mal, há de ser. Esse músculo é tão importante que me mantém escrevendo por enquanto. E qual, meu deus, me diga, qual a importância disso que estou a escrever? A maioria das pessoas não vai nem ler! Tá bom, não posso dizer que meu coração lírico não esteja a mil. Estou eufórico. Sensação de explosão inútil. Quem é você, Rafael??? Do que se trata isso tudo??? Cala a boca, finca seus pés no mundo, faz teu silêncio agradável e diga não! Aprenda! E tudo continua, tudo muda, mas aqui dentro nada parece aliviar. Cheguei da rua, tive uma reunião, estava com fome, estava cansado, comi, tomei um banho, sentei. O que é o amor? Porcaria de pergunta. O que é...o que é....aquilo mesmo que eu estava dizendo...sobre os ossos...como é mesmo? Aquela coisa que parece apertar o peito...não, infarto não...paixão...paixão? Não, não pode ser...não pode, não posso. É proibido. Por que tudo é proibido para quem quer viver? E se eu quisesse ao contrário? E como falar? Escrever é tão... sei lá, é uma forma de me limitar ao mundo das palavras e é um mundo do qual não faço parte, eu visito esporadicamente, vejo como me porto e assim, sem aviso, vou embora, saio, venho, vou, volto, toco de leve...faço carinho, arranho, levo outro tombo. Preciso ajustar a minha respiração, talvez isso funcione. Talvez inspirar e expirar. (Pausa)
Estou, estou, estou. Sou, não sou, não sou.

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