quinta-feira, 28 de abril de 2011

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A exposição de um poema num blog é como os quinze minutos de fama, de Warhol.
A duração de um texto na página principal é diretamente relacionada com
o número de textos - e quando digo textos, me refiro a postagens - que são escritos.
E aí você vai me perguntar: - mas por que não fala logo "postagens" ao invés de "textos"?
E eu não vou responder. O mote deste comentário é a fugacidade do poema, no blog.
Quanto mais eu escrever neste sítio, mais rápido você vai ver sumir o que escrevo agora,
nesta postagem. A fila anda, a página desce. O poema se põe. Vai pro museu.


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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Quem serão os próximos Cristãos?

Se transformarmos o que pensamos no que sentimos e o que sentimos no que escrevemos, poderemos assim transformar o que chamamos de dor em algo parecido, completamente contrário.
Acaba a dor, acaba o sofrimento, acaba o amor, acaba a saudade, acaba a raiva, acaba o afeto, acaba o chão, acaba a porta, o espaço, as paredes, as roupas, os sexos, acaba o quarto em que queimamos dentro.
Acaba o fim.
E tudo o que pensamos sobre o que sentimos sobre o que escrevemos se tornará páginas e mais páginas. Poderá tudo um dia ser lido. Mas por quem?

Peixes Voem

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Ninguém esta disposto
A sentir alguma dor.
E acho que com o passar
do tempo, nos afastamos das raízes.
É possível que, em algum dia de sol,
Peixes voem.
Na chuva mais fina,
nós seremos seres aquáticos.
Nadaremos para adaptar
o mundo ao grande ego humano.
Que já esqueceu do amor.
Sentir não é necessário.
Ninguém está disposto
a olhar o outro nos olhos.
E acho que com o passar da noite
seremos água-viva na areia.
No amanhecer do caos,
O bonito acaso.
Que não há.


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terça-feira, 19 de abril de 2011

sem revisar mesmo

Estou tenso. Como se eu precisasse que todos os meus músculos se contraíssem para poder segurar, hold together, todos os meus órgãos, todos os meus tecidos, ossos e pele. É a voracidade, talvez. Todas as coisas do mundo que se juntam e, em segredo, combinam: - ei, agora é a vez daquele ali (apontam para mim). vamos atacar!
E tááááá!!!!!! Vêm num tornado violento e me batem, me sacodem, me enfiam a porrada, até que eu preste atenção nisso tudo e sinta que oi! você é fraco! Sempre fui péssimo em onomatopéia, não sei qual é o som de quê e muito menos colocar isso em forma escrita. Esse "tá" foi um bom exemplo, pois não consigo sentir isso de verdade. Quando escrevemos tiramos a verdade das coisas. O que é vida, não é palavra. O que se torna palavra, de uma forma morre. Perde-se. A poesia das coisas vai pro lixo, assim sem peninha, sem lirismo, sem poesia. Dura e fria. Tenho sentido que escrever é somente uma questão de forma, o conteúdo fica fora. O conteúdo está nos olhos, no chão, na mão que toca o chão, no violão, no som que através do ar se faz ouvir, enfim, no que não se pode escrever, não se pode dizer, no indizível. Então caio eu no mesmo engano, de matar o que tenho escrito, o que me causou um ano sem escrever. Me distancio assim das palavras, pois elas ao invés de aumentarem meu homem sensísvel, aprisionam e tornam o eterno perecível. Ah, não quero escrever rimas! Neste exato momento meu coração bate acelerado e eu me sinto aprisionado dentro dele. Não, não é o coração do amor romântico, o coração valentino, o coração lírico e a metáfora-coração, não. É o meu músculo cardíaco que se espreme dentro de ossos atrofiados, dentro de um corpo magro, dentro de uma cidade magra, de um país formatado, de um mundo civilizado e uma escala de hierarquia absurda que é imposta e, bem ou mal, há de ser. Esse músculo é tão importante que me mantém escrevendo por enquanto. E qual, meu deus, me diga, qual a importância disso que estou a escrever? A maioria das pessoas não vai nem ler! Tá bom, não posso dizer que meu coração lírico não esteja a mil. Estou eufórico. Sensação de explosão inútil. Quem é você, Rafael??? Do que se trata isso tudo??? Cala a boca, finca seus pés no mundo, faz teu silêncio agradável e diga não! Aprenda! E tudo continua, tudo muda, mas aqui dentro nada parece aliviar. Cheguei da rua, tive uma reunião, estava com fome, estava cansado, comi, tomei um banho, sentei. O que é o amor? Porcaria de pergunta. O que é...o que é....aquilo mesmo que eu estava dizendo...sobre os ossos...como é mesmo? Aquela coisa que parece apertar o peito...não, infarto não...paixão...paixão? Não, não pode ser...não pode, não posso. É proibido. Por que tudo é proibido para quem quer viver? E se eu quisesse ao contrário? E como falar? Escrever é tão... sei lá, é uma forma de me limitar ao mundo das palavras e é um mundo do qual não faço parte, eu visito esporadicamente, vejo como me porto e assim, sem aviso, vou embora, saio, venho, vou, volto, toco de leve...faço carinho, arranho, levo outro tombo. Preciso ajustar a minha respiração, talvez isso funcione. Talvez inspirar e expirar. (Pausa)
Estou, estou, estou. Sou, não sou, não sou.

domingo, 17 de abril de 2011

Acho O Quê?

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Prefiro dizer que não faço poesia.
Ela está feita.
Eu apenas agrego palavras e
Busco algumas letras e receitas.


Se isso me ocorresse algum dia,
De eu achar que posso fazer
Da vida alguma poesia,
Eu acho que.

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sábado, 16 de abril de 2011

          Sempre
                                Não
                        Entendo
                                         Nada
             Do que
                                     Sempre
                Entendo

Miau

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Um grito que se prende à garganta
Afago que a dor me faz
Esperanças me traz
Não me toca, canta


Um gato que sobe no vão
Ao lado do passo do músico
Senta para escutar o som
Produzido, que é único


Miau - diz o gatinho
Se fosse um passarinho?
Não há o barulho suficiente
Para chamar a atenção da gente


Presto atenção em tudo
E só o que encontro é mistério,
Como o maior grito do mundo
Ser também o maior silêncio


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Dó Mi Fá (desde a escadaria, o primeiro lá)

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E que noite essa estrela ameaça

A quem debaixo de asas faz canção

Molhando o ar com o som

Dançando com olhos em flauta!



A sensação de espalhar-se no caos

E encontrar seu sorriso, te ver nos teus olhos,

Qualquer lembrança que não

Seja apenas coincidência, sopros…



O som é. Não se define. Não é

Ele agrega a noite que me domina

A lua que me domine, que me faça cantar

E ver o amor dançar no alto da Lapa!


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quinta-feira, 7 de abril de 2011

À integridade!

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Me indefini.
O que hoje sou não pertence a mim,
ao mundo, como uma esfera de importância mil.

Jogo para trás, seja num buraco pra enterrar mendigo,
todos os meus restos, tudo o que sai de mim, passado.
Pode ir em paz, ao rest.

Apenas escuto coisas, melodias, hamonias bandidas.
Que doa dizer isto, pois que me invadem e eu gozo.
Só a música pode fazer isto com dignidade.

Sou como o gole de cerveja
que cumpre seu papel.
Ele desce, é gostoso, refresca, e só.

Não tem vida definida,
algo que implique no seu
desenvolvimento como alguma coisa dita.

Sou como não sou nada!
Estou assim, ou de outra forma, cada hora é uma hora
e tudo é diferente e vivo, eu só sei o que sei.

Tudo isso é tudo.
É nada. Isso tudo não passa de nada.
Como as coisas que dão no papel como se dessem na alma.

Como se houvesse alguma alma,
a não ser na palavra.
No sentido bom da palavra.


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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Os Sentidos da Vida

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Todos fazem seus esforços
Para subir na vida.
Alguns sobem de escada,
Outros, de elevador.

A maioria, no entanto,
Nem sobe.
Assiste aos pássaros
Mais corajosos, ou dorme.

Há quem precise falar Inglês.
Outros, não aprenderam português.
Mas o fundamental na subida
É saber amar a vida.

Se ela é bonita, se não,
Cabe a nós especular.
A beleza é um conceito
Para o qual não há oposto.

E nem é preciso pensar,
Falar, saber, achar, concluir,
Quando se pode cheirar,
Tocar, ver, saborear e ouvir.


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