sexta-feira, 10 de julho de 2009

In Hell

Assisti hoje a uma peça chamada No Inferno. Foi montada por uma companhia de teatro de Cabo Verde. Está acontecendo aqui no Rio de Janeiro uma espécie de feira onde apresentam-se grupos de Angola, Cabo Verde, Portugal, talvez... enfim, eu acho que é de grupos de países em que o idioma oficial é o Português. Começou com um pequeno atraso. A peça estava prevista para começar às 21h, mas só começou por volta de 21:20h. O ritmo da peça ditava as cabeças que oscilavam pra cá e pra lá, de um ombro a outro, penduradas por pescoços. Sono geral. A sala era uma arena, de forma que eu podia ver os rostos do público. Bocejos, pessoas dormindo, pessoas fingindo estarem acordadas, pessoas atentas. Uma parte da platéia parecia ser de atores ou profissionais de outros grupos que vieram participar da feira. Tinha, nesta parte, uma mulher deitada com os pés sobre a cadeira ao lado. Se acomodou e dormiu. Acho que passou a noite por lá, se não tiver sido percebida por um funcionário do teatro. Depois do início da peça, ainda demorou bastante para a peça começar. E chegou um momento em que eu queria que ela acabasse. Nao estava irritado, ou incomodado. Achei apenas que não me acrescentava mais. Já tinha entendido. Então comecei a pensar em outras coisas. Lembrei do coro nos teatrinhos de minha infância: "começa! começa! começa". E eu pensava "Acaba! Acaba! Acaba!". Acho que se fosse o caso de votação, a peça terminaria por maioria dos votos populares. No ato. A peça foi válida, afinal, são guerreiros. Lutam contra muitas adversidades, num país de terceiro mundo, onde há muita pobreza, muita falta. E é esse o problema da peça. Falta. Falta algo.
Talvez seja apenas o horário. Público de teatro não assiste a espetáculos numa quinta-feira às nove da noite. Haja paciência! Foi grátis. Foi ótimo.

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E é possível que algum dia eu insira uma gravaçao no início de uma peça minha que diz:

"Senhoras e senhores, pedimos que liguem seus aparelhos eletrônicos, câmeras, celulares, e que por favor, tirem fotografias do espetáculo. É permitida a entrada após o início do espetáculo, assim como a saída. É permitido conversas paralelas. Pedimos, também a gentileza de comerem e beberam dentro do teatro, desde que não precisem carregar seus lixos até as lixeiras mais próximas. É permitida a entrada de animais de todas as espécies, e com qualquer tipo de manifestação patológica que possa ser contaminosa para terceiros. Caso o seu telefone toque durante o espetáculo, pedimos a gentileza de que atenda à ligação. Todos os demais irão esperar pacientemente até que termine. Pedimos também que não fale com voz baixa, pois todos os assentos do teatro precisam receber o áudio da peça. Com apoio de ninguém e patrocínio inexistente, é com grande prazer que apresento o não-espetáculo. Favor fazer barulho no início e pedimos encarecidamente que não aplaudam no final do espetáculo. Sua colaboração e presença não têm a menor importância, de modo que é permitido agir livremente dada a sua insignificância. Obrigado.

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