sexta-feira, 6 de abril de 2007

Acordou bem tarde e resolvou passear para ver como estaria a rua, a praia, enfim...as pessoas, nesta sexta-feira santa. Como de costume, pegou sua velha e surrada bibicleta e rumou em direção noroeste. No caminho percebeu que o sol já tinha se recolhido. Era quase noite. Pessoas alegres e carrancudas andavam, outros pedalavam, outros patinavam. Todos tinham seus rumos. Passou por um quiosque onde uma banda tocava músicas de paz, como os próprios músicos denominaram e o som era bom, apesar do apelo do politicamente correto. Porque não dizer, do apelo quase culpo-religioso. Afinal, era Páscoa! E as andantes desfilavam suas carnes queimadas após a exposição insistente ao sol. Como eram lindas. Não conseguia se localizar naquele bairro, tão próxima de sua casa, aonde as pessoas transitavam zumbis e com o sorriso arrastando a mandíbula. Ali todas as pessoas eram lindas, e o sol ainda brilhava atrás da montanha que exibia seus seios em contraste com o céu. E ele roçava nela.
Na volta, passou pela igreja e achou tão romântico aquele movimento santo. Ficou com vontade de entrar na igreja, nem que fosse para olhar as pessoas, ver a decoração, a iluminação, o espírito de Páscoa em uma igreja católica. Afinal de contas, tinha ele sido batizado na igreja católica, quando pequeno e por isso, se sentiu à vontade para entrar, salvo um pequeno detalhe. Ele estava sem camisa. Não vestia uma blusa e achou que poderia ser reprimido de alguma forma pelos irmãos, pois aonde já se viu alguém entrar na igreja sem camisa. É preciso o mínimo de respeito, afinal uma camisa é um artigo de total santidade. Pensou em Jesus. Pensou que Jesus andava sem camisa. Talvez fosse muito quente em sua terra, e por isso não existia a preocupação com o tórax(sexualmente) exposto. Sempre reparou nas vestes simples e minimalistas daquele homem santo. Pensou que com sandálias e com o peito aberto, poderia entrar numa igreja, sim. Então outro pensamento tomou conta e ele se perguntou se era ali na igreja que a Páscoa era realizada. Jesus não fundou igrejas, muito menos regras de conduta. Seguiu de volta para sua casa, aonde andava nu e poderia até ser confundido com Jesus, por algum louco que veja a barba e um corpo de homem nu. Sorriu e esperou pelo domingo com a certeza de que aquele homem estava de volta entre os homens.

Um comentário:

Annie Poulain disse...

Muito bom...rss... Muito bom... Seu herege....kkkk