terça-feira, 10 de abril de 2007

"
ASTROV - É um bárbaro insensato aquele que queima na estufa essa beleza, destrói aquilo que somos incapazes de criar. O homem foi dotado de juízo e força criadora para que multiplicasse aquilo que lhe foi entregue, mas até agora nada criou, apenas destruiu. A cada dia as florestas minguam mais e mais, os rios se esgotam, a vida selvagem se extingue, o clima fica mais adverso e a terra cada vez mais se torna pobre e feia. (A Voinitskii.) Seu olhar é irônico e acha que eu estou falando besteiras... Talve haja, de fato, algo de excêntrico nisso tudo, mas quando passo pelos bosques dos camponeses que salvei da destruição, ou quando ouço o sussurrar do bosque jovem que plantei com as próprias mãos, então sei que o clima depende um pouco de mim também, e se dentro de mil anos o homem for feliz, então eu também contribuí com uma pequena parcela para isso. Quando planto uma muda de bétala e mais tarde a vejo verdejante, agitando-se ao vento, minha alma se enche de orgulho e eu...(Percebe o criado, que lhe traz um copinho de vodca numa bandeja.) Mas... (Bebe.) Tenho de ir. Afinal de contas, tudo isso não passa de uma excentricidade. Meus respeitos! (Parte em direção à casa.)

SONIA - (toma-o pelo braço e acompanha-o) Quando vamos voltar a vê-lo?

ASTROV - Não sei...
"

Tchekhov - 1897

Nenhum comentário: