terça-feira, 5 de maio de 2009

em algum lugar no tempo...

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- E aí!!! Como é que vai ser hoje, meu bom moço?
- Hoje eu vou rasgando pelo lado azedo, de sebo me entorpeço, esganiço a serpente e sinto que não se pode haver mais porra nenhuma disso, tá ouvindo!!??
- Sim, senhor, obrigado, pois não. Seu desejo é uma ord...
- DESEJO???
- Oh!!!
- Me dá um ser humano aí!!!
- Pronto!
- Muito interessante, esse. Parrudinho, ? Deve ser bom de bater. Gosto quando é branquinho assim, porque aí dá pra ver a ferida, entendeu, teneu?
- Não compreendo.
- É que quando é branquinho, fica vermelho, depois roxo, depois vai descascando a pele, teneu? Vai ficando tudo aberto, os tecidos, o sangue jorra, sai muito, sabe? É isso que irrita! A sujeira do sangue! Ah que coisa chata! E aí alguém tem que lavar!
- Isso sim é um absurdo.
- E quem vai lavar?
- Você?
- O GOVERNO!!! HAHAHAHAHAHA
- (engolindo seco) estou com sede.
- Mas como eu estava falando, "de sebo me entorpeço, esganiço a serpen...
- Hum, meio erótico?
- O quê?
- Erótico, sei lá, tem a ver com sexo?
- Não.
- Perdão, senhor.
- Sempre. Enquanto os ventos do leste me trouxerem, de tempos em tempos, poeira sobre meus olhos , perdoarei aos demais.
- Muito bonito, senhor.
- O quê?
- Esta canção.
- É um poema meu.
- Ah.
- Sou poeta.
- Perdão, com licença, sim? (sai)
- A minha geografia, se confunde na tua história. E de quantas matemáticas preciso para calcular a química que se adequa a nossa física, quando não biologia? Literatura, então?
- (volta) Pintura.
- Esta sim. Eis uma bela arte! Uma das belas-artes!
- Não compreendo.
- Não é para compreender, seu abestado, quer dizer, me desculpa, é pra sentir... perceber... (gesto sentir perceber)
- Por que me xinga?
- É verdade, por que? Não vejo motivos. Te ofender por quê, meu deus, por que ofender, maltratar, abusar, seduzir as almas carentes para um mundo vil, semear serpentes em cada covil.
- Novamente as serpentes.
- Para que isso acabe, meu caro, é preciso coragem. Coragem! CORAGEM! Enquanto o medo dos infiéis na mente - e quem não o é, em algum tempo qualquer? - não romper o estrondo que rompe o clarão que quase cega a todos...(Bem dramático) Ah!!
- Vou trazer algo pra bebermos.
- (natural)E um cigarro, por favor. Ou melhor, dois.
- (Saí. Volta trazendo um whisky e dois maços de cigarros) Aqui, meu bom moço.
- Ah!!! Que felicitá!!! Vamos brindar a este momento especial! (brindam alegremente)
- que momento é este?
- Este, agora! Estamos aqui tomando este whisky, agora eu aqui falando no exato momento em que você está me escutando, isso não é algo extraordinário?
- Com certeza não é extraordinário senhor, a não ser...
- (Imitando ele) que tivéssemos alguma deficiência física ou mental que nos impedisse que de fazer alguma dessas coisas.
- Foi o que eu pensei, senhor.
- Senhor?
- Algum problema?
- SENHOR?
- Perdão, se não gosta que lhe chamem assim, mas eu não sabia.
- Tudo bem. Eu penso nos coronéis que comiam as virgens, torturavam os artistas, achavam que o mundo era um lugar certo. E não poderia haver o errado, o diferente, o torto, o poeta louco.
- Entendo.
- Entende?
- Não sei.
- E se fôssemos todos conscientes de que estamos condenados a morte? Normalmente não estamos achando que podemos morrer, não é? É chato, isso achar que vai morrer, mas se pensa na morte como uma amiga, depois o espírito flutua...
- E flutua?
- Flutua.
- (imitando um pato selvagem, sai berrando) NÓS VAMOS MORRER!!! NÓS VAMOS MORRER!!!!


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