sábado, 16 de junho de 2007

Ás vezes eu fumo uma erva, e o barulho da televisão me irrita.
Digo que é barulho porque som é coisa que se pode escutar.
Música triste se repetiu várias vezes, e agora preciso de alguma coisa bem agitada.
Alguma coisa que seja um pouco nojenta, um pouco...algo que cause uma certa revolta.
Depois amansa, e com um pequeno esforço da amada, ele se alegra. Vê o mundo colorido novamente. Ele tem dois amores. Um que dorme, outro que acorda.

No final de sua resistência à tanta carência reprimida, ele finalmente consegue sentir.
Sentir o toque de alguém. O toque, meu deus! O toque! Então era isso o que faltava!!!
Ele precisava que ela o tocasse, mesmo que fosse para acordá-lo de qualquer sonho bom. O sonho era um paraíso que se mostra lindo no início, mas que aos poucos vai tomando uma forma medonha e escura, assim como quem vai nos engolir, e depois ficaremos lá para sempre. Vivos, porém dentro de um vazio interminável. Um escuro que não tem mais fim. Ele precisava daquele toque.

Às vezes eu ordeno às estrelas que não apareçam. Como quem odeia tudo, não quero a presença de nada, de ninguém. Não quero a minha presença. Não quero sair de mim, porém. O corpo sabe que precisa ficar, e no entanto, brinca em linhas transparentes, podendo cair a qualquer instante e morrer para sempre. Esse balé sobre a linha é uma guerra nojenta. È verdade, não se assustem. Não se espantem. A vida é uma guerra.
Eu quero paz. Eu quero paz, sim. Eu preciso desse toque, eu sou capaz de cometer alguma loucura. Sabia que a loucura era burra.

Ela sabia que precisava também do seu toque. Sabia tudo, e por isso, continuava infeliz, zanzando por entre seus pensamentos de espinhos, e suas tesouras de unha. Estava presa. Sim, presa como um presidiário na cela fechada, mofada. Era vida saindo do mofo. Bactérias que evoluem dentro da cadeia. Precisava daquele toque, e era urgente. Ela não sabia. Pensava muito e, como quem pensa muito, teve medo. Sentiu pavor da vida bela, do amor poeta, do cinema moderno, do sol. Não queria a luz. Havia se tornado o próprio mofo. Ela sabia que precisava, mas tinha medo de viver.

E continuaram. Precisavam e se arrastavam.
Desesperado. Desesperada. Não pensem vocês que estas palavras significam a mesma coisa em gêneros diferentes. Ele queria viver, lutava. Ela precisava, queria morrer.
Em poucas horas se sentiram tão distantes que tiveram que continuar.
Ela precisou daquele toque até a sua última respiração. Salvaria a sua vida. Morreu.

Continuou pensando, e depois de um tempo, achou que deveria parar.
Ele não precisava mais. Estava livre. Olhou em volta. Olhou para o espelho.
Sorriu. Não com um sorriso, mas com o corpo. De repente uma luz brilhou, não como brilha qualquer luz, mas uma luz brilhou como só ela. Ele se virou em direção à porta.
Abriu. Não reconheceu o mundo que viu. Sem motivo nenhum, e nem precisava, correu.
Correu muito, correu sem parar. Correu sem parar.

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